24 de jul. de 2012

Você se deixa perceber?

Recebi o texto abaixo da amiga/querida Vivi Lolis e achei tão profundo... não quero condenar ninguém, cada mãe já carrega a culpa que merece escolhe, mas entendo a leitura desse texto como uma forma de refletir - pra mim, pelo menos, pensar sobre nossas atitudes é sempre elucidador: pra mantermos nossas posturas ou pra enxergarmos pontos que precisam de mudanças... 

O texto saiu na coluna Mulher 7x7 da Época Online, escrito pela Isabel Clemente, editora da revista ÉPOCA no Rio de Janeiro (o link do texto original é este aqui)Como eu falei pra Vi, fiquei feliz pois percebi que muitas das minhas escolhas me permitem fazer parte da vida da minha filha - não que eu não me sinta culpada, já aceitei que culpa e maternidade são sinônimos! Mas, ao menos, sinto que me deixo ver, sentir, estar... E você, se deixa perceber? 

Revelações de câmeras ocultas 
A mulher tinha 30 anos, um filho, um ótimo salário, um marido bacana, uma empregada de confiança, uma folguista maravilhosa, uma rotina enlouquecida e uma babá de quem desconfiava. Resolveu, por isso, instalar câmeras em casa. Descobriu assim que a verdadeira babá do filho de 2 anos era a televisão. Ligada o dia todo, a TV entretia o menino até a exaustão. Sentada diante do computador, e acelerando as cenas em alta resolução das câmeras escondidas na sala e no quarto da criança, a mulher se diluía em raiva e garotinho (sic). Assistir ao próprio filho alternando seu tédio entre o sofá, o chão e a parede, quando não estava em pé colado na tela, foi devastador. Abandonado na própria inocência, o menino quieto apenas sorria quando aparecia alguém. 
A babá flagrada pelas câmeras era uma presença esporádica, quase incidental, na rotina da criança, enquanto pai e mãe trabalhavam fora. E quando estava por perto, conversava no celular. As câmeras não tinham som, mas não parecia haver gritos, cenhos franzidos, nada disso. Ao prepará-lo para dormir, ela até parecia carinhosa, mas no restante do dia o ignorava. Mesmo assim, dividia com ele o quarto, em paz, enquanto a mãe ficou se perguntando se a moça atendia aos chamados noturnos, ou se também os ignorava. 
Chateada, a mãe demitiu a babá e resolveu botar o filho na creche, em tempo integral. Passada a difícil adaptação da escolinha, acostumou-se a buscar o filho pronto para dormir, na volta do trabalho. Parecia perfeito. Ele estava finalmente entretido por profissionais da educação, gente que jamais o abandonaria daquela forma. Manteve apenas a folguista dos fins de semana, moça de confiança, contratada desde o primeiro dia de vida do filho. Nessa, sim, ela confiava, até porque podia fiscalizar, sem aviso prévio, o expediente da moça, aos sábados, domingos e feriados. Aposentou as câmeras. 
(fonte da imagem: stock.xchng)
Não demorou muito, a dúvida voltou a incomodar. Mãe escaldada, achou melhor religar as câmeras e dar uma checada na folguista. Vai que…O trauma recente não a deixava em paz. Tinha pesadelos com o filho sendo engolido por uma televisão. O filho sozinho, chorando, querendo ajuda, sem ninguém atender. 
No primeiro fim de semana, não viu nada que chamasse sua atenção. A folguista brincava com a criança. Sentava no chão, montava cabanas e legos. No segundo fim de semana, tudo ok novamente. Respirou aliviada e sorriu ao ver o menino correndo de índio pela casa, sendo arrastado pela folguista em cima de um cobertor como se fosse charrete. Riu. Nunca tinha visto aquela brincadeira. Onde estava mesmo naquele sábado? 
No terceiro fim de semana de monitoramento, ficou enternecida ao ver o filho brincando no chão da sala de TV, enquanto a babá comia com um prato no colo e comentava algo que passava na televisão com ele. Onde eu estava, ela se perguntava, porque era domigno, e domingos são dias cheios, tomados por festas e passeios, aos quais sempre compareciam, a família, a folguista…Ficou um pouco enciumada ao perceber que o filho toda hora abraçava a folguista, beijava o braço, puxava pela mão, meio grudento demais. Ele não era assim. Ou era?
No quarto fim de semana, a ficha caiu. Sentada diante do monitor do computador à procura de imagens com provas contra a desatenção eventual da folguista, ela finalmente percebeu que havia algo muito errado na rotina do menino. Um vazio, uma solidão e um abandono não registrados em imagem alguma, mas na ausência de registros. A presença esporádica e quase incidental na vida do próprio filho era ela, a mãe, uma imagem que entrava e saía do alcance das câmeras em minutos fugazes durante todo o dia. Diante da descoberta, chorou um choro diferente, um choro sem consolo, que não se resolveria ao demitir alguém. 
Mas, logo lembrou, ela trabalhava demais, mal tinha tempo para si: horário a cumprir, clientes cobrando respostas, marido cansado. Os fins de semana acabavam tomados por compromissos, necessidades, compras. Mal relaxava. Ela se sentia culpada porque gostaria de ser mais presente. Gostaria? Mas não tinha como, ela fazia o possível. Fazia? Deixava ordens escritas, telefonava para casa, até filmar, filmou, e finalmente se enxergou. As câmeras se transformaram no espelho que ela não ousava encarar. 
Eu não sei o que essa mulher fez depois para se sentir melhor. Essa história me foi contada, sem nomes ou endereços, por uma terapeuta de casais para ilustrar um mal humano: a incapacidade de se perceber. 
A  vida de cada um é um universo muito particular, mas, quando os filhos chegam, é preciso reordenar as prioridades para não sermos presenças incidentais na vida deles.

11 comentários:

  1. Nossa, que triste!!!
    Trabalhar ou não nem sempre é o problema. Ter noção da sua importância para seu filho é o ponto principal. Muitas vezes vc está em casa e é como se nem estivesse ali.
    Texo muito bom para fazer uma reflexão dos nossos atos ;)

    Beijos,
    #amigacomenta
    @maebivolt

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  2. Ótimo texto Carol!Por mais que eu sinta falta do mercado de trabalho, não sei se saberia lidar com não estar tão presente na vida do meu filho.Não condeno as mães que fazem na boa, pois tenho certeza que fazem o melhor que podem, mas EU, minha consciência certamente ia pesar, já que não seria por motivos financeiros e sim por gosto mesmo.
    Bjooooo!

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  3. nossa....triste e muito real.. faz parte mesmo do que eu vejo por ai....e tento nao ser igual.....
    #amigacomenta

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  4. Emocionante o texto Carol!Aqui é por motivos financeiros :(
    Beijos
    #amigacomenta

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  5. Essa é uma realidade de muitas famílias,quando fomos na casa de um casal amigo nosso,a dona da casa e uma outra mãe que estava lá ficavam corversando e pegando sol,e eu brincando na areia com a pequena,tinha o filho dessa mãe,ele tem 10 anos,super entediado,pois não tinha atrativos p/ ele,e ela falaram que nuncam se deram ao trabalho de brincar com os filhos na praia,eu gosto de participar,é alo que faço com prazer,mas teve um momento que o comentário foi meio carregado,dai deixei claro que brincar com a minha filha não era nem um sacrifício.
    bjs
    #amigacomenta

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  6. Chorei, comecei a ler e fiquei pensando, nem fim de semana essa mãe passa com o filho!!
    Eu diminui a minha rotina de trabalho depois que Luna nasceu, meu salário agora é metade do que era, mas minha felicidade de cuidar dela todas as tardes não tem preço!! Isso era o que eu queria e podia fazer, cada mãe sabe de si!!

    Beijão.
    @_maejestade
    #amigacomenta
    http://www.vidademaejestade.com/

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  7. Acho q cada um sabe o q é melhor para si e sua família mas, eu tenho meus filhos como prioridades, parei de trabalhar para engravidar, estou em casa com eles, acompanhando tudo, fazendo tudo e mesmo assim, ainda me sinto culpada por achar q não brinco muito com eles, q não passeio tanto, q fico demais no computador...
    Sei lá, não sou a mais indicada pra falar sobre isso, sou meio perfeccionista, sabe?
    A maternidade é o projeto da minha vida e eu faço de tudo para que ele seja perfeito, é claro que isto é impossível e é claro que eu sofro por isso, é claro que sou consciente de tudo isso mas, não está claro se conseguirei me absolver de tanta culpa! rsrsrs

    Bjo!

    Loreta #amigacomenta;)
    @bagagemdemae

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  8. Triste e lindo ao mesmo! Me vi em alguns momentos nesse texto. Trabalho demais, saio de casa as 7 da manhã e só chego as 7 da noite! vejo pouco meus filhos durante a semana! E antes, aos fds ficava organizando a casa, a vida, e deixando de compartilhar momentos importantes dos pequenos! Só que um belo dia decidi mandar quase tudo (menos o trabalho, claro) pros ares e ficar com eles o máximo que posso! pelo menos assim, tento compensar o resto do tempo! mas a culpa me persegue todos os dias!

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  9. Ontem liguei a TV e tava passando o finalzinho da sessão da tarde na globo, quando a babá falava com uma das câmeras e mostrava à mãe do menino o quanto ela era ausente... igualzinho aí! Eu ainda não sei como vou lidar com a distância quando chegar a hora, mas desde já morro de preocupação.
    ótimo texto, excelente reflexão.

    Beijo

    Manu
    #amigacomenta
    @emanoellew
    www.manumamae.blogspot.com.br

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  10. Tb assisti o filme operação babá que passou ontem, que passa uma mensagem parecida...No momento eu não trabalho fora de casa, então essa culpa não carrego, mas carrego outras, cada mãe tem a sua né? beijo querida
    #amigacomenta

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  11. Nossa, demais o texto!!!
    Obrigada por compartilhar!!!
    Beijão

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